Sendo em novembro, o dia dedicado aos finados, é quase impossível, neste mês, não consumir algum tempo, pensando na finitude humana.
E quando pensamos nessa finitude, é inevitável pensar no cemitério como um lugar triste que só suscita sentimentos de perda e desligamento. Mas se ampliarmos o olhar, veremos que esses lugares também podem propiciar reflexões com potencial de elevação e rejuvenescimento de esperanças.
De fato, o cemitério é o lugar de chorar e lamentar perdas, então é difícil não sentir certo aniquilamento de expectativas de realização; mas por contraditório que possa parecer, é possível ir a um cemitério nas homenagens a entes queridos, e ver que, estando vivos e pulsantes, somos portadores de potencialidades das quais muitas vezes, nem temos consciência. Continuar lendo O Que Aprendemos Nos Cemitérios
A pergunta ‘o que é autorrealização?’ deveria ser a primeira a ser ensinada ao ser humano. E o motivo é simples. A autorrealização é o objetivo primordial e é comum a todos nós.
Autorrealizar-se é realizar o sentido da própria vida, com a firme percepção de que o esforço despendido para vivê-la casa com os desejos e valores que nos movem. Continuar lendo As Jornadas da Realização
A verdade é sempre menina e, não raro, está ferida
Desculpas, artimanhas, disfarces, ilusões, falseamentos dos fatos, formalidades encobridoras de sentimentos reais, comentários evasivos e mentirinhas de amor.
Quem está imune a sofrer ou aplicar aos atos humanos, artifícios que, cotidianamente, travestem de verdade pequenas ou grandes mentiras?
Talvez uma das respostas à questão seja que temos consciência de que a realidade tem força sobre nós e define boa parte do nosso destino. Por causa disto, muitas vezes, consideramos cômodo o refúgio em fantasias e ilusões que a negam ou amortecem.
A Literatura ilustra o medo de encarar a realidade inexorável. Um exemplo está em Angústia, obra de Graciliano Ramos, quando, Luís da Silva, o protagonista, diz: ‘Quando a realidade me entra pelos olhos, meu pequeno mundo desaba’.
O embate entre verdade e ilusão e a resistência de encararmos realidades distintas do que concebemos é tão central que é o tema da alegoria da caverna, exposta por Sócrates em um dos diálogos escritos por Platão.
Para entendermos esse eterno conflito entre o verdadeiro e o ilusório é preciso, antes, fazer uma distinção entre o que é a realidade e o que seja a verdade.
Costumamos utilizar os dois termos como sinônimos. Contudo, a realidade ou real é o que está dado. É o fato, fenômeno ou objeto em si. Daí ser sempre indomável e impessoal, pois o real é o que é ou ocorre objetivamente, livre de interpretações e olhares.
Por sua vez, a verdade é um olhar sobre a realidade objetiva, a verdade tem sempre um caráter pessoal, pois é a visão de alguém sobre o real.
Nesse sentido, é ilustrativa a visão de Drummond no seu Poema da Verdade, cujos versos dizem: “Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta. Chegaram ao lugar luminoso onde a verdade esplendia seus fogos. Era dividida em duas metades diferentes uma da outra”.
De fato, não tocamos diretamente o real, nos relacionamos com ele indiretamente, a partir da percepção. Daí, que um desafio humano seja traduzir o real, rico e complexo, de forma aproximada e livre de inclinações e interesses.
É impossível sobreviver ignorando o real, razão pela qual, a despeito de ser impossível traduzi-lo perfeitamente, precisamos esgotar os recursos de pensamento, linguagem, afetos e emoções para decifrá-lo.
É desse esforço de tradução do real que nasce a verdade como território coletivo, como união sinérgica de olhares subjetivos movidos pela intenção comum de desvendá-lo de forma honesta e bem-intencionada.
E o trabalho coletivo de construção da verdade não é opção. É exigência humana, uma vez que a convivência, o trabalho e as relações dependem da capacidade de construir a verdade comum da forma empática e benéfica.
A Alegoria da Caverna, exposta por Platão, fala do esforço dos que saem da caverna e veem a realidade que está fora dela, mas fala também da resistência dos que nela permanecem de aceitar uma realidade diferente.
Na Alegoria da Caverna está implícita a pergunta: somos como os homens que só aceitam a verdade da caverna ou somos como os que saem e percebem a multiplicidade do real?
Muitas vezes, somos como aqueles homens acorrentados no fundo da caverna de Platão. Presos a um universo particular, enxergamos a realidade com profundo fechamento de visão para o que é diferente.
Então, vivemos a ‘verdade da caverna’ e nos recusamos a ver a realidade que vem de outros olhares e como nos apegamos apenas à verdade da caverna, nos recusamos a ouvir argumentações que visem à clareza da situação, utilizamos palavras que dão aparência de verdade ao que é apenas um ponto de vista pessoal e, por isto, é reduzido.
Nas discussões, nos apegamos à nossa ideia ou visão e nos debatemos no mero combate, que não raro, resulta de narcisismo ou ardor egoístico de exercer supremacia.
Seguimos esquecidos que o real é indomável e só é traduzível pela verdade presa a muitos e distintos olhares.
Outras vezes, somos como os que sabem que a verdade depende de intenções íntegras, que se materializa na disposição empática de compartilhar e no desprendimento de quem caminha junto, respeitando e abrindo-se às visões do outro para descobrir espaços fora da caverna.
Enfim, na geografia da verdade de cada um, há abismos, terrenos pedregosos e desertos cheios de miragens, por isso, o mais coletivo dos exercícios é percorrer o território da verdade em comunhão.
Percorrer caminhos com os próprios pés. Quem já não escutou algum conselho que ditava a sabedoria do autoconhecimento? A despeito disso, parece que muitos de nós vivemos à deriva, seguindo modelos impostos, imitando escolhas alheias, trilhando caminhos alienados de quem somos.
Mamíferos em manada. O fato, entretanto, é que, de certa forma, em algum nível, somos todos seres atingidos por alguma exigência de adaptação ao ambiente e aos outros. É natural querer seguir os rituais de nossas tribos, buscar a aceitação dos pares. Mais do que natural, talvez isso seja fundamental para nós mamíferos, humanos e racionais como forma de partilhar um destino comum. A questão é que alguns levam isso às últimas consequências e atropelam o próprio senso de identidade pessoal, Continuar lendo Autoconhecimento: caminho de volta a nós mesmos…
O aniversário é a marca inequívoca da passagem do Rei Cronos e seu cetro imperioso. É o anúncio do tempo que escorreu e do tempo que chega. E é nessa junção do tempo vivido com o momento presente que se esconde a chave do futuro.
Ambiguidade. É. Vivemos uma ambiguidade sentimental em relação ao tempo. De um lado, experimentamos o sentimento de nostalgia. Um desejo de refazer pela lembrança, de forma perfeita, tudo o que poderia ter sido e que não foi. Domínio da ilusão de que no pretérito, os encontros se conjugariam melhor e os desejos seriam sempre objetos diretos da vontade. Do outro lado, a esperança. O esforço de dar crédito à promessa atraente de que no futuro, bailaremos a dança da vida ‘en pas de deux’ com a felicidade. E nessa ambiguidade, muitas vezes, investimos muito em sentimentos de nostalgia ou de esperança vã, desperdiçando força essencial à arquitetura do futuro.
Ad aeternum. Há um tempo absoluto. Um tempo que não finda. É a eternidade. Mas, apesar de finitos, cada um de nós carrega o dom de fazer seu próprio tempo eterno. Continuar lendo Sentimento sobre a passagem do tempo