
Um provérbio vietnamita diz: “quando comeres uma fruta lembra-te de quem plantou a árvore”.
O dito popular traduz a sabedoria de uma nação sofrida que aprendeu o valor da gratidão.
No dia a dia, são muitos os focos de discórdias. Então, como construir uma vida feliz e equilibrada sem minimizar os nós que emperram as relações?
A compreensão do que nos leva às tensões inúteis e sugadoras de energia emocional é um bom começo na cura das relações.
O estudo da hostilidade humana, quando busca as origens das rivalidades que levam a guerras e conflitos armados, tem apontado duas fontes: a escassez de recursos e a diminuição da autonomia. E, de fato, as disputas e a opressão têm sido motores infalíveis de hostilidades.
Entretanto, as guerras e os grandes conflitos são ápices da rivalidade. Não são as hostilidades cotidianas traduzidas em rispidez, indiferença, e omissões que vão enredando a teia dessa animosidade?
E a animosidade que tem repercussão social na convivência dos povos, traz também malefícios à saúde emocional de pessoas e relações.
Se pudéssemos escutar as queixas que chegam às clínicas psicológicas, ouviríamos lamentos, que, no geral, falam do sofrimento provocado pela ausência de reciprocidade nas relações, ou seja, pela ingratidão.
A gratidão é atitude que revela pessoas com elevado senso de justiça e conscientes de que a reciprocidade nas relações é uma regra universal de conduta propiciadora de bem-estar e paz. Todos que agem de boa fé esperam reações compatíveis com as própria ações.
A gratidão ou reciprocidade justa está na base dos relacionamentos saudáveis, sendo a raiz da aceitação social e da genuína amizade.
As palavras gratidão, agradável, gratificante e graça têm a mesma raiz etimológica. E realmente, condutas que encerram empatia têm o poder de imprimir confiança mútua e graça nos relacionamentos.
A ingratidão, ao contrário, é semente de ressentimentos. Frustra alianças e causa fraturas irrecuperáveis nas relações.
Sentir-se vítima de ingratidão traz a sentimentos de desamparo com repercussões negativas na capacidade humana de acreditar no companheirismo e nos benefícios da convivência, com impactos terríveis à sociabilidade.
E sem as competências da sociabilidade preservadas não há êxito ou felicidade possíveis.
Um provérbio francês diz: a gratidão é o coração da memória. É preciso praticar as competências da gratidão: reconhecer o mérito alheio, elogiar honestamente, recompensar favores, agradecer com humildade.
Essas condutas demonstram disposição à gratidão e condutas típicas de uma elevada competência social. O contrário disso é condenar-se ao isolamento social.
Daniel Goleman, psicólogo e neurocientista, defende que as aptidões essenciais são transmitidas muito cedo e por essa razão, precisamos ensinar o alfabeto emocional às crianças e jovens; treiná-las para que sejam adultos capazes de promover bem-estar emocional e social.
A infância e a adolescência são realmente pontos críticos. É quando são introduzidos os hábitos emocionais que vão governar nossas vidas e condicionar os resultados que obteremos no futuro.
Contudo, é sempre possível transformar atitudes e modificar condutas durante toda a vida para sermos pessoas melhores.
Sabemos que não é fácil. Transformar atitudes, virar a chave da mudança de hábitos prejudiciais exige negar uma realidade social que dá sinais de irreflexão, dissolução da civilidade, extremo individualismo, cega acumulação material e evidências da desintegração do senso comunitário.
A prática da gratidão, a gentileza cotidiana podem ser bons antídotos. Podem ajudar a tecer trabalho e convivência com o concurso da cooperação, da empatia e consideração do outro.
Chogyam Trungpa, mestre do budismo tibetano, prega que quando se exprime a gentileza e a gratidão sobre o ambiente, o poder e o brilho descem sobre a situação e transborda sobre nós.
Deixemos, então, a luz da gratidão resplandecer sobre nossas existências.
