
Quem nunca ouviu essa pergunta?
O motivo em torno da curiosidade sobre preferências de leitores é que os hábitos de quem lê dá indícios valiosos sobre quem ele é: ideias, preferências, curiosidades. Há mesmo quem diga que a leitura revela traços de personalidade.
De fato, quando respondemos sobre preferências pessoais, utilizamos critérios particulares do que seja um livro que deixe um registro duradouro na memória afetiva.
Nesse sentido, os livros de cabeceira revelam, realmente, aspectos singulares de quem os prefere.
Mas, o que é um livro de cabeceira?
É plausível dizer que um livro de cabeceira é o que definimos como leitura indispensável e que, sem dúvida, será releitura. Ou seja, é um livro que será relido com prazer ou proveito.
Já a expressão ‘de cabeceira’ surgiu pelo fato da necessidade do livro eleito ser tão marcante, que ele precisa estar à mão para consultas e leituras oportunas.
Desse modo, a ‘cabeceira’ é mais um espaço afetivo do que a parte de um móvel que permite que o livro esteja sempre à mão. Muitas vezes, o livro de cabeceira foi emprestado e deixou marca tão nítida na memória, que mesmo após a devolução do volume físico, o livro passa a nos pertencer de forma definitiva.
Outra curiosidade é que a expressão ‘livro de cabeceira’, apesar de ser escrita no singular, pode se referir não apenas a um único volume, mas abarcar uma variedade de leituras. Há pessoas que têm uma verdadeira ‘biblioteca de cabeceira’.
Há muitas curiosidades sobre preferências literárias, entretanto, de tudo que pudermos abordar sobre a temática, o mais importante é fixar o papel socializador e formativo da troca de informação entre pessoas e grupos acerca de suas impressões de leitura.
Tanto faz que a curiosidade de quem pergunta sobre o gosto íntimo do leitor tenha caráter pessoal ou literário. Saber o critério adotado pelos diferentes leitores para destacarem suas leituras mais impressionantes tem rico papel formativo.
E o motivo é simples. Essa troca de revelações pode trazer ricas informações sobre a atualidade do mundo literário e conhecimentos valiosos, o que é especialmente vantajoso em tempos de maior escolarização da população e incremento da formação de leitores.
O critério que demarca preferências é sempre muito singular, com escolhas de campos abrangentes e interesses diversificados.
Os livros de cabeceira podem ser: os consultados para fins de utilidade prática; os que trazem inspirações para o dia a dia; livros de arte para embelezar a rotina; compêndios de Filosofia com profundos insights; obras religiosas que fortalecem a espiritualidade; manuais com princípios profissionais; volumes de culinária com apetitosas e secretas receitas; dicionários; livros de poesia; tratados teóricos.
Enfim, não importa o tipo de livro, importa é que ele seja o tipo do leitor.
Quando pensamos nas obras que costumam aparecer nas listas de livros de cabeceira mais citados, percebemos que há a predominância das leituras que causam espanto pela incomparável experiência estética ou cognitiva que proporcionam. E pelo espanto ou encantamento que provocam, desnudam certezas, seja para negá-las ou reafirmá-las e assim modificar posicionamentos existenciais.
Se me perguntassem, hoje, quais os meus livros de cabeceira, talvez eu respondesse que os livros que desnudaram minha ignorância foram muitos. Tantos que seria difícil delimitar a resposta.
Pessoalmente, penso que eu teria uma biblioteca de cabeceira. Nela, vocês encontrariam: o dicionário do Aurélio Buarque (o Pai dos Inteligentes), uma boa e tradicional Gramática Explicativa; a República de Platão e a Odisseia de Homero; as poesias de Adélia Prado e Drummond e volumes de escritores de alma telúrica como João Guimarães Rosa, Graciliano Ramos, Cecília Meireles e Manoel de Barros.
Mas, se amanhã, eu precisar responder à mesma pergunta, minhas lista de leituras de cabeceira, talvez sofreria alterações.
E você? Quais os seus livros de cabeceira?

Vamos ler e apostar em “Não contem com o fim do livro”, de Umberto Eco e Jean-Claude Carrière, para que tenhamos livros para por na cabeceira.
Gostei da sua lista! Aqui conto com uma antologia da Cecília Meireles, que é a minha preferida… 🙂
Lidu, meus livros de cabeceira hoje são: Bíblia, Autobiografia de Gandhi, Pinocchio (estou lendo com meu filho) e Para Viver com Poesia do Mário Quintana.
O mais engraçado é que trago no meu caminho uma busca inquietante pela verdade, mesmo sabendo de sua relatividade…e agora, elencando os livros acima, percebi que ambos abordam questões relacionadas a verdade ou a falta dela…
Encerro meu comentário com a doçura e leveza de Mário Quintana que consegue acessar nossa criança que tanto tentamos esconder:
” a mentira é uma verdade que se esqueceu de acontecer”.
Querida Sidneyde, suas reflexões têm muito sentido. Grata pela visita ao blog.
Gosto muito de Gabriel Garcia….e Jorge Amado….O amor nos tempos do cólera e Capitães da areia…
Oi, Lidú, que provocação maravilhosa no seu ensaio, e quão bem escrito!
Quando você escreve : “Pessoalmente, penso que eu teria uma biblioteca de cabeceira”, imagino quantos dos amantes de livros identificam-se com sua fala, e isso é maravilhoso” Eu me identifiquei com todo o texto. Ele é muito empático e fluido.
Hoje estão na minha cabeceira: Fernando Pessoa (obra completa de seu heterônimo Alberto Caeiro), Escrevendo com a Alma, de Natalie Goldberg(presente de nossa ensaísta); O Imperador do sorvete e outros poemas, de Wallace Stevens; e Poemas, de Bertolt Brecht (1913-1956). A sua escrita, Lidú, nos incentiva e ensina.
Muito obrigada!’
Saudações literárias
Jovina