
É possível imaginar um intelectual sem uma razoável biblioteca? Será plausível que um estudante consiga eficiência se não aliar ao estudo persistente, horas de boa leitura?
É difícil. Os benefícios da leitura para a formação intelectual e o preparo profissional são indiscutíveis.
Mas, que tal olhar outros benefícios da prática de leitura?
Costumamos ver o ato de ler, somente dos pontos de vista útil e pragmático, enxergando-o apenas como ação mecânica e funcional.
Mas, o ato de ler envolve muito mais.
Ler exige a conjunção dos sentidos, desencadeia emoções, lembra-nos de afetos. Quando lemos, não somos impactados somente pela visão ou pelo tato (quando a leitura é em Braile), todos os sentidos estão em concurso e põem em movimento distintos afetos, memórias e imagens.
É isso. A leitura é, também, uma experiência sensível e a consciência desse fato pode levar-nos a vivenciá-la não apenas como tarefa, mas como aprendizado da sensibilidade.
O convite é abstrair-se da visão do ato de ler como esforço de concentração e mergulhar na leitura como fonte de delícias e sensações.
Quem, ao abrir um livro e antevendo o prazer da leitura não sentiu cócegas na alma? Quem nunca experimentou certo frenesi ao se deparar com um verso ou linha escrita com perfeição que o remeteu ao turbilhão de recordações e sonhos de sua própria vida?
E quem sai incólume dessas experiências?
Que leitor afeiçoado à leitura não abriu um livro e o fechou, imediatamente, numa doce sabotagem de quem quer retardar o prazer que findará na página final? Que grande leitor não pulou da linha inicial ao miolo do livro, ansioso por antecipar a aventura de entrar em universos de personagens loucos, banais ou sábios, mas cheios de intensa vida?
Se prestarmos atenção a esse jogo ‘sensual’ do leitor de antecipar e retardar os prazeres que tira do livro, parece um pouco a brincadeira de amantes que se oferecem às carícias, mas no mesmo instante retrocedem, fazendo o jogo de antecipação e privação de sensações possíveis, desde o prelúdio amoroso até o êxtase. E o que é o ápice da boa leitura senão um edulcorado do prazer da descoberta de segredos e lições extraídos do ato de ler?
Então, por alguns instantes, pelo menos, deixemos de lado a visão da leitura como ação pragmática com fim útil e nos lancemos ao jardim de delícias que é um bom livro.
Pense nos autores que você ainda não leu, nos livros que ainda não conquistou e se lance às suas leituras como um ávido sedutor, espreitando e escancarando sensações.
E boa leitura!

Magnífico seu texto! São, realmente, muitos os prazeres despertados por este hábito. Amo LER!
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