
O farol do tempo aponta a luz para um ano novo.
Como será nossa viagem no tempo que se avizinha? Embarcaremos em jornada pessoal de crescimento ou seremos náufragos num mar de indecisões e desesperenças?
Antes de procurar respostas, que tal por lentes otimistas para ver o que a linha do tempo nos reserva?
É certo que todos buscamos fluir na direção da felicidade. Quem não quer remar com alegria e, tal qual Ulisses, o herói destemido da Odisséia, romper obstáculos, descobrir saídas e depois constatar que a travessia foi possível?
Entretanto, é fato que nas viagens costumamos alternar momentos de alegria e confiança com horas de cansaço e desânimo. É que toda jornada tem seus próprios desafios e ao encará-los, fica fácil cair no desespero e entregar-se ao pessimismo virulento que mortifica o ânimo.
E nesses momentos há duas atitudes mais frequentes que podem ser observadas. Há os que flertam com quimeras e ilusões traiçoeiras que trazem consolo instatâneo, mas não os impulsionam à ação resolutiva, ao contrário, os deixam à deriva qual barcos sem porto aonde chegar. Há, também a atitude oposta, mantemos firme o leme da vontade e prosseguimos, vendo o que se apresenta a cada maré, com visão esperançosa e ação substantiva como âncoras que fincam conquistas no território das realizações.
Descerrar as cortinas do tempo é uma dádiva e como tal exige coragem e esperança para seu completo usufruto. Pede medir realidade e sonhos com olhos bem abertos e balança equilibrada.
A vida é feita de realidade e de sonhos. Viver é contrapor as duas dimensões. É balancear senso de realidade com o entusiasmo próprio de crianças rasgando o papel que as separa do presente de Papai Noel.
Há que sonhar, acreditar no caminho e guiar a caravana da vida para diante. Ariano Suassuna diz que o sonho é uma luz que nos puxa para a frente. Shakeaspeare versejava: ‘o importante não é a noite, mas os sonhos.
É bom afiar ouvidos e escutar esses dois sábios sonhadores. Afinal o que é viver, senão por sonhos em movimento?
Buscamos dia a dia, a alegria, a essência da própria felicidade dos sonhos. E, realmente, é difícil negar que estar vivo tem algo onírico. E a razão é simples: contra todas as desilusões, remando contra ondas de indecisão, desafiando as dores da solidão e o açoite do desamparo, não importa, estamos vivos e simplesmente por isto, podemos deixar o vento morno da esperança bater no nosso rosto como carícia de mãe. Podemos caminhar direcionando ação e energia para onde nos puxam os sonhos.
É preciso sagrar-se companheiro da vida. Banir o pessimismo. Envolver-se pela imanência do pensamento afirmativo, sopro de quem não teme o medo e por isto, se eleva com a alma movida pelos músculos da perseverança.
Sem dúvida, há anos mais difíceis e outros mais felizes. Para cada um de nós a malha do tempo apresenta diferentes bordados. Entretanto, as matizes dos sentimentos que vamos imprimir às experiências é obra autoral. Sim, podemos usar a energia contida nos sonhos mais profundos e fazer romper um tempo cheio da energia do dia que nasce a despeito do desespero da noite.
E o que somos senão seres guiados pelos faróis dos próprios sonhos? Fernando Pessoa enxergava seus sonhos como um céu particular e os cantava em versos: ‘Cada qual tem seu devaneio, sou igual. E por detras disso, céu meu, constelo-me às escondidas e tenho o meu infinito.’
Os sonhos são a matéria que nos solidifica e o ar que bafeja a esperança. A vida é bela. Criemos uma atmosfera em torno dessa convicção, pois a atmosfera que criamos à nossa volta é a alma da nossa existência.
