
Pensando na história das mulheres, lembrei-me da poesia magistral de Florbela Espanca. E acho que descobri a razão de tal lembrança.
A poeta produziu versos que ultrapassaram sua história pessoal, expressando o que é ser mulher que não se aquieta diante de um mundo opressor. Viveu tragicamente. Vida marcada por desencontros afetivos e profunda angústia.
Angústia de quem se sentia tolhida no anseio de viver em plenitude. Uma doce poesia amarga. Amargor expresso em poesia aguda e sensível. Um de seus versos mais pessimistas é um desabafo da desesperança:‘quem noites só conheceu,não pode cantar auroras’.
Pela biografia da poeta portuguesa, não é difícil adivinhar inquietações que coincidem com perguntas que inquietam a nós, mulheres.
E foi inspirada nessas inquietações que imaginei a história das mulheres como se fosse uma coleção de experiências enfileiradas como contas de um colar.
Um colar a exibir o fio da história feminina. História composta por dias de memoráveis lutas, mas também, de biografias que foram tenebrosas noites a ecoar desespero e dor.
Para examinar esse colar é preciso revirar o baú da existência feminina e achar as experiências entranhadas na vida de cada mulher. E quando as encontrarmos, creia que perceberemos que esse colar não é apenas de embelezamento. Há contas opacas – contas manchadas pelas cores da agressão. Contas que gritam o lamento de dor da alma de mulheres brutalizadas por machos cegos na ânsia de exercer supremacia.
Contas que escancaram o verbo sangrento formando um rosário de aflições de mulheres mortas por homens de almas impotentes. Homens incapazes de ver que a violência os condena à brutalidade e diminui sua masculinidade.
Pior. Essas contas horrendas se repetem.
A garra e a coragem para a luta, entretanto, também são contas desse colar e precisam brilhar para ofuscar até apagar o vermelho do sangue de quem foi ferida ou morreu pelas garras do machismo.
A essa dura e, não raro, trágica saga, entretanto, precisamos incluir o sentimento de esperança. É preciso enfeitar o colar que conta as lutas femininas com as contas verdes e brilhantes da esperança realística. Esperança que nos anima a lutar contra os que nos oprimem sob inúmeros pretextos.
Além da esperança, é preciso incluir os elos da sororidade – capacidade de união e acolhimento das mulheres entre si, uma vez que as relações e trocas com respeito e cuidado recíprocos são indispensáveis fatores para o empoderamento feminino.
A sororidade é a liga para a coesão na resistência à opressão imposta pelos que se acham nossos donos. Incluamos, então, mais essas contas no colar da história feminina, para que um dia possamos exibir a história humana como uma joia em homenagem à dignidade das mulheres e às suas conquistas.

Lidu,
Como sempre nos presenteando com os seus belos textos que nos fazem pensar, sentir, crescer…Dentre tantas outras, pensei em algumas “contas” que de imediato me remetem a você (ou seria você a elas?).São a generosidade e o talento. A primeira pelo compartilhamento constante da sua sabedoria,da sua percepção do mundo; a segunda… dispensa comentários! Obrigada e parabéns pela grande mulher que você é.
Beijos e saudades – sempre!
Querida ângela,
Obrigada pelas palavras de carinho. Saudade.
Nossa, encantada…. e muito feliz pelo presente para os meus olhos e consciência, Lidu…. Você certamente está nas continhas desse colar, que traduzem a sensibilidade, esperança e força da alma feminina…. Grande beijo, querida!!
Salve, Liduína !!! Saúde e Paz !!!
Mulher sertaneja,parideira,lavadeira,roceira,doceira… Mulher ferida,oprimida,reprimida, nem sempre querida… Quantas mulheres
sofridas ? !!!!!
Mulher da noite… Mulher do dia, não vadia.
Mulher nas cinzas, mulher em brasas,
Mulher na rua, sem casa
Sempre lúcida e precisa!
Lidu, esse texto ficou maravilhoso.Adorei a ideia docolar de contas,nada tão feminino e repleto de significados.
abraços
Lidu… Saudades… Você sempre nos brindando com suas reflexões oportunas… Grande e linda mulher!!! Beijo enorme!!!
Lula
Lidu, que texto maravilhoso! É impressionante como continuo aprendendo com você, mesmo à distância. Você é muito gente!
Um beijo cheio de saudade.
Lidu…..Encontrei nas contas uma alma maravilhosa, amiga,fraterna,sempre
transbordando amor ao próximo e pronta para ajudar. Essa conta se chama LIDU. Bjos nessa alma generosa.
Lidu…Com você a palavra flui, serena e vigorosa trazendo imagens inquietantes, reflexões convidativas…Parabéns! Beijo grande.
Liduína querida,
Você possui uma capacidade de nos tocar com as imagens que evocas com tuas palavras. Falar da mulher, da sua importância no núcleo familiar, na sociedade, sem negligenciar o homem como companheiro, e também criticando-o como exemplar maior de uma sociedade estruturada no machismo que maltrata, espanca, fere e até mata tantas mulheres mundo afora.
São tantas contas, não é querida, que no fim das contas fica a imagem mais arquetípica da mulher: a de MÃE – geratriz, cuidadora e nutridora de todos nós, homens e mulheres.
Beijos no teu coração,
Serginho
Lidu,
excelente o texto, muito apropriada a metáfora usada para falar de mulheres: um colar de palavras! Um colar de palavras expressa uma síntese da condição feminina. Sendo uma síntese, certamente não é capaz de compreender todo o significado da mulher no exercício de seu papel social em suas multifacetadas condições de existência.
Parabéns, um grande abraço!
Querida Lidu,
Uma joia de texto. Joia rara.
Obrigada, mais uma vez pelo presente dos seus escritos.
Emília
Querida Lidu,
hoje reli este texto, que me trouxe a reflexão do ser mulher, muito bem retratado nesta metáfora . Você sempre compartilhando conosco de sua riqueza de conhecimento e sensibilidade.
grande abraço,
dirleg
Prezada Lidu, a vida é um processo- e nós homens somos seres sempre inacabados – aprendemos com a vida e com o tempo. Mas só nos completamos pela delicadeza singular do encanto pulsante da mulher na vida de cada um de nós.